sábado, 17 de janeiro de 2009

IMPRESSÕES SEM COMPLEXO : FASHION RIO 2009


Bom, é fato. Não sou um comentarista de Moda. Não sou um jornalista e nem, de perto, um fashionista (se existir essa palavra). Mas, ninguém pode negar que sou muito curioso e que esse mundinho me causa sentimentos paradoxais.

Assisti os dois desfiles dos doze novos talentos do Rio Moda Hype, convidado pelo Robert Guimarães. Desses doze, o único que eu conhecia era o Rique Groove, querido amigo e uma pessoa encantadora.

E, no último dia do evento, assisti ao último desfile, a coleção da Complexo B.

Fiquei muito surpreso e gratificado com o que vi nos desfiles dos novos talentos. Pure de Belo Horizonte, Stefania do Distrito Federal, Martins Paulo do Piauí e Rique Groove do Rio de Janeiro. Isso não quer dizer que não tenha gostado dos outros 8 estilistas, mas esses me surpreenderam.

Do Nordeste Brasileiro, veio o piauiense, Martins Paulo. Sua coleção, inspirada na obra de Cecília Meireles, já seria um alento, uma poesia em proposta. Mesmo desconhecendo a obra dessa poetisa, qualquer um seria capaz de descobri em sua coleção as cores e fantasia de seu texto. Um universo de vestidos em tecido xadrez colorido. O estilista desconstrói padrões estabelecidos e forma novas composições. Utiliza-se da sobreposição de peças para esquentar o corpo e deixar braços e pernas de fora.

No segundo dia, o esmero, o bom acabamento e a inovação, marcaram as duas primeiras coleções, Pure de Belo Horizonte e Stefania do Distrito Federal. A Pure trabalhou com inovação no tricô, criando novas tramas, texturas e volumes. E a brasiliense Stefania Rosa alcançou um nível espetacular na manufatura de suas peças. O primeiro modelo, que entrou na passarela, mostrava uma delicadeza e refino que impressionava. Uma mistura de vestido e casaco, como se uma saia plissada fosse desvelada, dando movimento e leveza a roupa de inverno. A estilista, veterana nas passarelas, está lançando pela editora SENAC um livro sobre alfaiataria, “Alfaiataria – Modelagem Plana Masculina”.


Para encerrar o desfile dos novos talentos, a alegria e juventude da coleção de Rique Groove. Apostando no lema “paixão pela vida”, sua coleção é colorida e divertida, rompendo com padrões clássicos, principalmente para moda masculina. Paletós estampados fazendo composição com camisas coloridas e bermudões, não obrigatoriamente na mesma padronagem. Gorros, golas em forma de pequenas bóias e acessórios transformavam os modelos em bonecos, brinquedos para o grande parque diversão que é a vida. Aliás, em sua coleção passada, com uma grande inspiração nos toy arts, já mostrava essa tendência. Dessa vez, abandonou as estamparias do “boneco caveirinha”, ícone da coleção de 2008, e substituiu por corações de todas as formas, cores e tamanhos... privilegiando a paixão.

O último desfile do Fashion Rio, da grife Complexo B, foi um espetáculo. Abrindo o desfile, como um mestre-cerimônia de uma gafieira do bairro boêmio da Lapa, o ator Milton Gonçalves. Com chapéu, tênis, paletó e calça brancos, contrastando com uma camisa estampada em vinho e preto, carregando um grande cordão dourado com a letra B pendurada, deu início ao desfile de malandros re-paginados e inovadores.

A ambientação da Lapa reforçava a personificação da malandragem dos modelos, que às vezes pareciam saídos de magazines antigos, com caps, paletós curtos e bermudões, tudo na mesma padronagem. Passariam, tranqüilamente, por burgueses da sociedade britânica dos anos 40. Para contrastar com esses modelos britânicos, a coleção apresentou os malandros cariocas, de micro shorts e camisões estampados abertos, calçando tênis branco e portando um chapéu preto; envoltos em correntes douradas pesadas sustentando grandes medalhões. Esse era um dos personagens que atravessaria a passarela. Mas a grande surpresa viria quase no final, um lindo “travesti” levantou o público ao se descobrir do pesado casaco e desvelar um vestido prata metalizado... alvoroço total.

Finalizando, mais uma vez a apresentação do Malandro Milton Gonçalves ao lado do estilista, Beto Neves, e do travesti. E, para a minha surpresa, após a saída dos três da passarela, um ataque relâmpago do público às caixas de isopor que permaneciam no meio da passarela, do início ao final do desfile. Elas, cheias de gelo, portavam dezenas de garrafas da cerveja devassa. Cada um saiu com uma garrafinha pelo menos.

Brinde ao estilo Carioca-Lapa de ser.