domingo, 6 de junho de 2010

CURTA A SUA PRÓPRIA IDENTIDADE

ASSIM É SE LHE PARECE
Será? Não. Desculpe-me Pirandello, mas não posso ser aquilo que as pessoas veem em mim. É uma responsabilidade padoxialmente tamanha e tacanha.

No início do mês passado, fui surpreendido. As pessoas cobram de você comportamentos e atitudes como se fossem de sua própria natureza. Elas nos veem como aquilo que imaginam e criam expectativas em torno de nossas ações e comportamentos que, quando não concretizados, geram frutações. Frustações unilaterais, há de se deixar claro.

Aí, geram cobranças, do genêro: “Por que você não falou comigo?”, “Por que você não sorriu pra mim?” , “Por que...?” , “Por que...? “ e mais “Por que...?”. Sentimentos não compartilhados.

As pessoas me cobram aperto de mão, sorriso, abraço, beijo, carinho... Disputam de outros essas manifestações, em sua essência, genuínas. Invejam-me (coisa louca!!). Sentem-se preteridas. Invenenam-me. Dizem que sumi, desapareci, mas esquecem que tenho endereço e celular. Não percebem que não correspondem a mesma cobrança e que não há cobrança nenhuma de mim.

Essas pessoas, depois de conseguirem ultrapassar esse "obstáculo particular", se esquecem... se esquecem de mim. Aí, fico sem isso nem aquilo e com a sensação de que cometi um grande erro: agradei ao outro e não a mim. O que muitos querem não sou eu, mas sim aquele que elas querem que eu seja. E isso, às vezes, é muito tarde para mudar. Mas não percam a esperança, basta me verem como realmente sou.


RPG
Hoje, o meu celular – quando o tenho – só toca para lembrar a sessão de RPG que tenho marcada para o dia seguinte.


PESADO DEMAIS PARA ESSE PEDESTAL
Ora, ou outra, encontro alguém vasculhando as minhas gavetas – espero que entendam e não levem isso à ferro e fogo. Parecem procurar em mim algo para si. Encontram. Desperta a cobiça por aquilo que desejam e que pertence a mim de alguma forma. Aí, gera-se a inveja e o ciúme.Coisa que tenho evitado ao máximo para não ser prejudicado como já fui.

Mais uma vez, atribuem a mim um status que não possuo e colocam-me num pedestal para o qual não tenho medidas e nem peso.


ESPAÇOS MULTIUSOS E INTERATIVOS
Ora sou incluido no grupo dos especialistas em Teatro. Digo que não, apesar de trabalhar com projetos nessa área. Aí, surge outro com um projeto de Dança e diz: “Esse projeto é a sua cara...”. Até pode ser, mas conheço pouca gente na área de dança. Imaginem os outros exemplos: Música, Cinema, Artes Plásticas. Na verdade, devo ser incluido no hall dos “espaços multiusos e interativos” .


LIBRA OU CAPRICÓRNIO
Eu sou libriano e, de um tempo pra cá, isso vem me incomodando. O meu grande amigo confidente, que anda compartilhando essa tarefa – antes exclusiva apenas a mim – com outro o qual um dia já me foi muito próximo, tenta me convencer que, depois de um certo tempo, o que impera é o ascendente: capricórnio. Não sei. O que sei é que sempre estou entre isso e aquilo, e nunca muito definido de nada. Não sou Carlos Eduardo, muito menos apenas Carlos. Sou Cacá, mas, às vezes, parece-me faltar algo Valente.


CARLOS
“Carlos”, segundo grupos de especialistas no qual eu não me incluo, foi a grande obra-prima do último Festival de Cannes. Uma produção do diretor francês Olivier Assayas que não pôde disputar o certâme e com isso não almejava a Palma de Ouro. O “filme” não foi e nem será exibido nas salas de cinema, pois não é “considerado” filme, embora seu processo de concepção de dramaturgia seja o mesmo de um projeto cinematográfico. Mais um dilema de identidade.

A saga do terrosista venezuelano Ilich Ramírez Sánches, temido pela alcunha de Carlos, o Chacal, foi exibido na televisão francesa, em 3 capítulos, com produção do Canal Plus.

Já não é a primeira vez que os franceses produzem filmes com essa temática de gangster ou marginais, com amplo sucesso de crítica e público. Isso, na verdade, não é nenhuma novidade pois temos os exemplos de Hollywood que, de uns tempos pra cá, embora persistam, não têm encontrado o êxito de antes.

A mais recente produção francesa nesse gênero, que recebeu o famoso oscar francês – César –, foi o filme “Inimigo Público nº 1”, do diretor Jean-François Richet e estrelado pelo ator Vincent Cassel. Assim como “Carlos”, “Inimigo Público” foi dividido em mais de uma parte, devido a sua duração e, diferente desse último, foi exibido no cinema.

http://www.youtube.com/watch?v=AoLoobpdfXw


HERÓIS MARGINAIS
O historiador britânico Eric Hobsbawm já havia se debruçado sobre o estudo do fascinio dos Heróis Marginais. Em seu livro “Bandidos”, publicado pela primeira vez em 1969, e relançado agora no Brasil com textos inéditos, o autor põe luz sob indivíduos ou grupos que são vistos como forças positivas dentro de uma comunidade, apesar de serem considerados marginais, eternizados por lendas, canções e poemas, assim como foi o inimigo número 1, Jacques Mesrine.

O nosso Lampião está lá.


MADEMOISELLE CHAMBON
É um filme de poucas palavras, mas que tem muito a dizer. Assim – como no uso de uma frase-clichê –, desmistifica-se o padrão de filmes românticos que utilizam dos clichês para justificar as ações e comportamentos que se desenrolariam na trama. Talvez, o clichê esteja, apenas, na forma de mostrar o envolvimento amoroso de duas pessoas compostas pela delicadeza de uma e a preeminência bruteza de outra.

Aqui, recorro ao crítico Marcelo Janot para, mais uma vez, mostrar as sutilezas e falsas identidades que o filme poderia nos levar: “Muita gente pode ser levada a pensar que Mademoiselle Chambon é dirigido por uma mulher – pela confusão que o nome do diretor Stéphane Brizé pode causar e, sobretudo pela delicadeza com que o filme observa o comportamento das personagens femininas. Por outro lado, a forma como são retratados os dilemas vividos pelo protagonista também revelam um profundo conhecimento da alma masculina”.

O filme é feito de silêncios e poucas palavras, o que poderia nos revelar uma calma e harmonia. Tampouco o casal formado pelo pedreiro e por uma operária pressente de qualquer insatisfação ou crise, e muito menos a paixões arrebatadoras. É um casal que vive uma vida rotineira, normal, da casa para o trabalho e do trabalho para a casa, no meio disso a escola do filho. Mas há um estado de tensão entre o pedreiro e a professora da escola de seu filho, e que parece estar na iminência de se romper, mas que custa a se concretizar. Porém, há sutis metáforas que poderiam nos levar a justificar tal tensão.
A personagem do pedreiro, interpretado por Vincent Lindon, curiosamente, procura o apaziguamento no alto de um monte onde o vento forte faz agitar as copas das árvores e romper com o silêncio e tranquilidade aparente. Sua profissão, de pedreiro, permite construir casas que pode durar uma vida toda.

Já, a personagem da professora, interpretada por Sandrine Kiberlain, uma professora solitária que não costuma fixar residência, mostra-se fragilidade e melancolia, sem grandes dotes físicos para romper qualquer estrutura familiar. Apenas um beijo faz com que a situação mude, mas não se concretize.

O filme, para mim, poderia terminar uns 5 minutinhos antes. Mas acredito que o final escolhido pelo diretor foi dar desfecho coerente a uma das personagens, que de outra forma não poderia ser visualizado pelo espectador.

http://www.dailymotion.com/video/xab0ss_mademoiselle-chambon-bande-annonce_shortfilms


OTRO E CORTE SECO
O outro é sempre mais interessante do que nós. O interesse pelo estrangeiro sempre motivou o explorador. Sempre gera o mistério.

Agora o teatro vem despertando esse fascínio pelo o outro. Na verdade, o seu próprio fascínio, a sua própria linguagem.

Assisti dois espetáculos em que o recurso da linguagem teatral e trabalhada como “metalinguagem”: “Corte Seco” e o “Otro”. Confesso que gostei mais do segundo do que do primeiro.

É um trabalho onde o ator de teatro se reconhece e, portanto, se identifica plenamente. E acaba por usufrir mais do espetáculo do que o mero espectador sem esse repertório, mas ainda, assim, podemos aproveitar.


DO RIO
No finalzinho do mês passado, circulou pela internet o trailer do longa metragem feito pelo Carlos Saldanha, a animação que será ambientada no Rio de Janeiro. É tão bom quando nos reconhecemos em alguma obra. Foi uma sensação única ver o traço revelando a identidade carioca.

http://www.youtube.com/watch?v=qPqwlgqO_x0&feature=related



DO RIO AO PORTO
No Porto, em Portugal, existe um espaço curioso que conheci na minha última viagem, em 2006. Não seria nada demais se ele não funcionasse dentro de uma garagem antiga de autocarros em estilo art decó. Um espaço cultural, composto por restaurante, bar, espaço para shows e exposição. Um espaço multiuso chamado Maus Hábitos. E desde o ínicio de junho recebe duas exposições de brasileiros.

“Favelão”, uma individual do artista Gilvan Nunes, com curadoria de Fernando Cochiarale, e uma coletiva, “Quase casais”, com curadoria de Bernardo Mosqueira que reune 12 artistas, entre eles Gisela Milman, Leo Ayres e Fernando De La Roque.


MUSEUS À BEIRA....
...do Cais ou à beira do fechamento por falta de estrutura?

Não sou contra, acho maravilhoso, mas me sinto incrédulo diante de tantas condicionantes que nos mostram um sistema de arte sem recursos e com uma demanda insuficiente para tanto espaço. A cada semana, um novo museu será construído à beira do cais e, enquanto isso, outros tentam, à duras penas, sobreviver com pequenos orçamentos, estruturas ineficientes e equipe reduzida.

Centro Hélio Oiticica fechado por não conseguir seguir uma programação que possa abranger o seu espaço formado por 3 andares, por falta de equipe e orçamento modesto.

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro há anos vem lutando contra infiltrações que comprometem a biblioteca (hoje fechada) e com uma reserva técnica que não assegura plenamente o seu acervo.

Museu de Arte Contemporânea de Niterói, nunca teve espaço para uma reserva técnica.

Museu de Belas Artes, com uma reserva técnica pequena para uma coleção de mais de 18 mil obras.

Sem falar nos espaços que planejam inauguração e sem muito convencimento de acontecer a curto prazo: Fundação Daros (parece obra de igreja), Instituto Europeu de Design (faliu), Museu do Meio Ambiente (já escutei esse canto antes), Instituto Cervantes (parece que vai acontecer)...

Aí, surgi a notícia de um Museu para Carmen Miranda, um para Gastronomia e outro para Portinari. Um Museu de Arte do Rio - MAR – onde antes seria uma Pinacoteca –, um outro chamado Museu do Amanhã... amanhã é logo depois de hoje. Tudo à beira do cais.

Surge reivindicações dos pequenos, em qualquer oportunidade que se faça surgir, como foi no caso da entrega dos prêmios de Cultura do Estado, no início desse ano, onde duas instituições do Rio de Janeiro manifestaram interesse em se mudar para à beira do Cais.

Tudo bem que se queira revitalizar a Zona Portuária e que a Odebrecht já tenha ganho a licitação para a primeira fase, formando um consórcio junto com mais outras duas grandes empresas, a um custo de R$139,6 bilhões, mas será que teremos público para tanta coisa no Rio de Janeiro?

Haja planejamento. Haja projetos para incentivar o turismo – é, porque de outra forma não vejo uma maneira de ocupar esses espaços culturais.

E ainda querem fechar a Avenida Rio Branco e demolir a perimetral. Maravilha! Onde fica esse Rio de Janeiro que eu não conheço e que muito gostaria de conhecer?


PRIMEIRO LUGAR ...
Em tempo de mundial, o Brasil já tem um título a comemorar. Já somos o primeiro país em cirurgias estéticas, na frente dos EUA. Oba!

Por outro lado, circula uma discussão polêmica nas agências de propaganda e nos meios de comunicação sobre o uso indiscriminado da manipulação das fotos. Essa discussão veio à tona depois que o partido Liberal Democrata inglês pediu que fotos publicadas na mídia venham com a informação que foram modificadas no photoshop.

Essa decisão do partido inglês surgiu depois que a ex-modelo Twiggy e a atriz Jessica Alba tiveram fotos para campanhas publicitárias modificadas. As rugas de uma Twiggy sessentona desapareceram no comercial de um creme facial, e Alba parece muito mais magra do que na verdade é.

O parlamentar Jo Swinson, que assina o projeto de lei, alerta que o "ideal de beleza atual faz com que meninas sofram maior pressão do que há poucos anos atrás". Para Swinson, o retoque de imagens faz com que "a publicidade venda imagens que não podem ser alcançadas na vida real". Por isso, ela acredita que a manipulação de imagens deve ser banida, sobretudo em comerciais voltados para jovens.
O partido vai pedir que o órgão de regulamentação da publicidade no país proíba o uso de imagens manipuladas em propagandas destinadas a menores de 16 anos. Já comerciais para adultos deverão indicar onde houver tratamento digital. Ainda segundo o projeto de lei, as escolas devem oferecer e estimular aulas de dança, exercícios aeróbicos, yoga além de garantir que vestiários estejam bem equipados.


“Esse negócio de manipulação de imagem está uma babaquice. Está todo mundo igual: cabelos, caras e sorrisos.” – Fernanda Lima

Cadê a bunda?


BUNDO
Sarah Baartman ou Saartjie Baartman, era escrava e servia a uma família holandesa no século XVIII. De etnia khoisan – a mesma do político Nelson Mandela – foi muito explorada por ter um grande “bundo” – nome em zulu para a nossa “bunda”.

Em 1810, chegou a Londres para exibir o que lhe era de sua natureza, porém de estranheza para o povo europeu. Com objetivo de ganhar e dar dinheiro ao mostrar tamanha exuberância, em circos e exposições, acabou sendo presa e interrogada. Declarou, em holandês, língua que aprendera com os seus senhores na África do Sul, que as mulheres deveriam ter os mesmos direitos dos homens – e exigiu metade do dinheiro arrecadado pelos seus opressores.

Sarah morreria em Paris, em 1815, antes de completar 26 anos de idade. Seu esqueleto, seus órgãos genitais e seu cérebro, conservados, ficaram expostos no Musée de L’Homme, em Paris, até 2002 – quando Nelson Mandela, após longa negociação, conseguiu o retorno de seus restos mortais para serem enterrados na África do Sul.

Se cuida Mulher Melancia!!!


TROCAS E MUDANÇAS
(copio aqui um texto de Roberto DaMatta)
”Quando eu era um jovem estudante de antropologia, fiquei muito impressionado quando aprendi que o diferente, - o outro (o índio, o estrangeiro, o gay, o negro, a mulher, o anão, o gênio, etc... - não precisa ser qualificado como inferior nem como superior. Ele é uma alternativa. Seria possível falar em alternativas melhores e piores, mais avançadas ou adiantadas? Essa era, exatamente, a questão. E eu, caro leitor, confesso que até hoje não sei muito bem se nós, humanos, melhoramos ou pioramos nas nossas mais diversas versões históricas e culturais que, no fundo são alternativas: outros modos de conceber e fazer as mesmas coisas que, por isso mesmo, ficam diferentes. Sei, simplesmente, que a despeito de todos os avanços tecnológicos, continuamos a matar
e a morrer como os homem de Neanderthal. E a chorar de mágoa e de saudade...”.

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