domingo, 3 de abril de 2011

Irmãos e Irmãs, fico feliz com a ideia de saber que vocês existem.

Eu já tinha percebido porque gosto de Brothers & Sister. O seriado escancara problemas corriqueiros de uma família comum, mesmo que a família Walker não seja tão comum assim. Às vezes fico imaginando como seria bom ter uma família assim, unida pelos problemas e alegrias, onde existe um “ligamento” maior do que as rígidas convenções familiares. Onde o afeto e o amor são ligações mais profundas que os simples laços sanguíneos. Laços sanguíneos não são tão simples assim.

Ao final de cada episódio, é como se saísse de uma sessão de terapia, muito embora nunca tenha passado por uma, mas imagino como se fosse. Choro. Choro pelo que não tenho, ou pelo que sinto falta. Choro pela diferença e similitude, choro por não atingir o almejado.

Hoje, mais uma vez foi pela falta. A falta que todos estão carecas de saber e que não me envergonho de dizer que sinto. É uma ferida que está cicatrizada, mas que ao leve toque rompe a casquinha superficial, e sangra. São pequenas gotas suficientes para me trazer à mente o que não tenho mais, e o que não terei. Acabou e não tem volta. Vire a página, é o que mais escuto. Siga em frente, é o que me aconselham. Esqueça, é a forma radical. Como se fosse fácil arrancar de você puros sentimentos. Como se fosse fácil ignorar a perda, por mais insignificante para o outro. O reconhecimento do sentimento que o outro tem por você, ou a falta dele, é o que mais amargura. A indiferença e o distanciamento natural que a vida nos proporciona em situações como essas é o que corrói. A insignificância de alguém que foi um dia importante para você parece não ter cura. É não ter mais existência.

Vão comparar o tempo. A duração. O tempo em que tudo aconteceu, e a duração daquele momento. Alguém consegue mensurar o tempo de ser feliz? Alguém consegue estabelecer qual a dose para ser feliz? Um ano, dois, três são suficientes? Há medida para a felicidade? Se você é feliz por dez anos, a sua cota de felicidade já está preenchida e, portanto não precisa mais dela? E se a felicidade é intensa por apenas quatro meses? Há como comparar as felicidades das pessoas? Eu posso ser muito feliz em apenas um dia do que por dez anos.

Mas, aí me vem uma lição que tive ao ler um texto. Li, certa vez, provavelmente de André Comte-Sponville, que a mais profunda e verdadeira declaração de amor é alguém lhe dizer “fico feliz com a ideia de saber que você existe”, pois não lhe pede nada. Diferente da pessoa que lhe diz “eu te amo”, pois nesse caso lhe pede tudo, pois o significado desse amor é ocupar um espaço, a falta dele mesmo. É um sentimento egoísta. Nesse caso, o que você ama, ou deseja, é ocupar um espaço em você, é a posse de algo para satisfazer um sentimento de falta. De um lado Spinoza, do outro Platão.

Recuperei o texto. É realmente de Sponville. E o cito para terminar.

“Só esperamos o que não depende de nós; só queremos o que depende de nós. Só esperamos o que não é; só amamos o que é. Trata-se de operar, portanto, uma conversão do desejo: quando, espontaneamente, como a criança antes do Natal, só sabemos desejar o que nos falta, o que não depende de nós, trata-se de aprender a desejar o que depende de nós (isto é, aprender a querer e a agir), trata-se de aprender a desejar o que é (isto é, a amar), em vez de desejar sempre o que não é (esperar ou lamentar).”

Só se sente falta daquilo que um dia já se teve, por mais que seja a falta do amor de posse e egoísta. E a esperança de se ter de volta é para quem não tem conhecimento da possibilidade da reconquista, portanto, nada animador.

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